Em 1954, um tal Oscar Niemeyer teve a idéia de projetar um complexo habitacional para Belo Horizonte. A capital das Minas Gerais estava em pleno crescimento e merecia uma obra que se destacasse, uma arquitetura diversificada e que chamasse a atenção, não só pelo tamanho, como também pela beleza!
Vários anos se passaram e em 1963 a obra foi terminada, porém, somente em 1970, o local pode finalmente ser habitado. Exuberante e diferente de tudo que havia na época, o trabalho de Niemeyer levou o nome do então governador de Minas, Juscelino Kubitschek e passou a ser conhecido como “Conjunto JK ou Edifício JK”.
O núcleo é composto por duas torres, sendo o bloco A, com 26 andares, 647 apartamentos e 76 metros de altura. O bloco B, por sua vez, possui 34 andares, 439 apartamentos e 100 metros de altura, o que o faz o edifício mais alto de Belo Horizonte. No topo dessa torre está o relógio mais conhecido da cidade que é patrocinado pelo Banco Itaú. Uma fonte interna do edifício não quis revelar o valor pago pelo banco para usar o espaço, alegando ser um assunto confidencial. 10 elevadores na torre A e 7 na B, garantem o transporte das milhares de pessoas que transitam diariamente no interior dessa cidade vertical.
Segundo funcionários, não há grandes transtornos com relação aos elevadores nem mesmo em horários de maior movimento. Claro que para garantir a qualidade desse serviço, é de fundamental importância a participação dos moradores. Apertar o botão de chamada apenas uma vez, respeitar o número máximo de passageiros, não fazer brincadeiras ou movimentos bruscos que possam acionar os dispositivos de segurança, são alguns dos cuidados seguidos por eles e que garantem o bom funcionamento das máquinas que trabalham ininterruptamente, dia e noite. Para garantir maior segurança, a empresa Elevadores Multiel presta assistência técnica diária nos dois blocos do conjunto.
Devido à sua imensidão e ao grande número de moradores (atualmente cerca de cinco mil), o edifício JK passou a ser visto como um local de baixo nível, onde só moram prostitutas e homossexuais, no entanto, a realidade ali encontrada é outra e bem diferente. Márcia Cavalieri reside no "bloco A" há mais de doze anos e garante que o local é muito agradável para se viver. “Nesse tempo que moro aqui nunca presenciei coisas absurdas como às vezes se comenta lá fora”, comentou a moradora. Para ela, essa imagem negra do conjunto é um estereótipo que desaparece quando as pessoas visitam as dependências do JK. Os corredores são impecáveis, nota-se que a higiene é um dos fatores de preocupação da síndica Maria Lima das Graças.
O tempo passou e o Conjunto JK envelheceu, assim como nós humanos. Hoje se vê muito estrago e algumas áreas destruídas. Isso não significa que a população simplesmente deixou de cuidar dele. Uma reforma geral das duas torres está em andamento e deve se arrastar por muitos anos, afinal, o espaço é muito grande e muito dinheiro será necessário até que se conclua a obra. Quem passa nas proximidades do complexo JK, se for bem atento, poderá constatar o contraste entre os apartamentos que já foram reformados e os antigos, que causam uma má impressão aos olhos de quem circula na região. A moradora Márcia Cavalieri, citada anteriormente, garante que estão trabalhando a todo vapor, empenhados em mudar a cara do histórico conjunto habitacional mais famoso da capital mineira.
Diógenes Soares, de 34 anos, trabalha na administração do JK há 14. Ao perguntarmos se ele era o funcionário mais antigo dali, ele sorriu e chamou um senhor que estava no escritório. Trata-se de Nelson Rodrigues, não o escritor, claro. O senhor Nelson trabalha ali há 43 anos! “É uma vida”, diz ele.
É extremamente satisfatório a gente analisar de perto a base de sustentação dos dois edifícios. Dá uma impressão de que tudo está no ar. São várias colunas encravadas debaixo dos prédios, deixando a gente perplexo ao imaginar o peso que elas carregam. Com a correria do dia-a-dia as pessoas acabam não dando conta de apreciar certas belezas raras existentes na nossa cidade. Portanto, quando você passar próximo à Praça Raul Soares, lembre-se de contemplar uma das maiores obras assinadas por Niemeyer e que deixaram uma marca no cenário arquitetônico de Belo Horizonte.